A leitura do ISM de Serviços revelou-se desfavorável para o dólar. Embora o indicador tenha permanecido em território de expansão, apresentou uma tendência de queda, contrariando as expectativas de aceleração. Diversos componentes do relatório também decepcionaram, indicando uma desaceleração no ritmo de crescimento do setor de serviços dos Estados Unidos.
Curiosamente, o dólar praticamente ignorou a divulgação dos dados, já que os participantes do mercado concentraram sua atenção nas declarações de Donald Trump, que comentou as perspectivas de um acordo comercial com a China e a possibilidade de impor tarifas de 35% sobre produtos da União Europeia. Sua retórica pressionou o euro, enquanto o dólar se fortaleceu temporariamente em meio ao aumento do sentimento de aversão ao risco.
Ainda assim, o relatório do ISM de Serviços não deve ser ignorado — e, certamente, Trump não pode ser considerado um "aliado" dos vendedores do EUR/USD. Declarações políticas tendem a ter efeito passageiro, enquanto indicadores macroeconômicos relevantes costumam exercer impacto mais duradouro. Por isso, é provável que o relatório volte a influenciar o mercado — e não de forma favorável ao dólar.
Segundo os dados divulgados, o ISM Services PMI caiu para 50,1 em julho, enquanto a maioria dos analistas projetava uma alta para 51,5.
O que esse resultado indica? Em primeiro lugar, que o setor está praticamente estagnado, embora ainda em território de expansão. Pelo segundo mês consecutivo, o índice ficou próximo do nível de 50 (50,8 em junho e 50,1 em julho), o que, na prática, sinaliza ausência de crescimento. Os principais subíndices também revelam um cenário pouco animador. Por exemplo, o componente de novos pedidos recuou para 50,3, refletindo uma demanda enfraquecida. O subíndice de emprego caiu para 46,4, indicando redução nas contratações. Enquanto isso, o índice de preços pagos subiu para 69,9 — o maior patamar em quase três anos. Essa combinação de demanda fraca e custos em alta acende um alerta sobre uma possível estagflação, ou seja, quando há crescimento fraco acompanhado de pressões inflacionárias.
No geral, o índice de julho retrata uma quase paralisação da atividade no setor de serviços dos EUA: crescimento mínimo, demanda fraca, queda no emprego e aumento nos preços. O setor está à beira da estagnação.
Os dados recentes desenham um panorama preocupante: o mercado de trabalho mostra sinais de arrefecimento, o setor manufatureiro encolhe (com o ISM de Manufatura em 48,5), os preços seguem em alta e os serviços mal se sustentam, com sinais evidentes de enfraquecimento da demanda. Além disso, o crescimento de 3% do PIB dos EUA no segundo trimestre foi impulsionado por uma queda nas importações — e não por um avanço na demanda interna ou na produção. Isso, somado ao enfraquecimento do mercado de trabalho, à queda nos PMIs e ao aumento dos custos, aponta para possíveis fragilidades estruturais na economia norte-americana.
Então, por que os traders praticamente ignoraram o relatório do ISM de Serviços? Por um lado, sua divulgação interrompeu o movimento de queda (a mínima intradiária foi registrada em 1,1529), mas, por outro, não serviu como catalisador para a alta do EUR/USD — os compradores ainda enfrentam resistência na região de 1,1590 (linha Tenkan-sen no gráfico diário).
Na minha opinião, os participantes do mercado estão agindo com cautela diante da retórica contraditória de Trump, que tem emitido sinais tanto tranquilizadores quanto alarmantes. Por exemplo, o presidente dos EUA afirmou que o país está "muito próximo de um acordo com a China" e expressou confiança de que Washington "chegará a um acordo muito bom com Pequim". Ele também não descartou a possibilidade de uma reunião com o presidente chinês Xi Jinping ainda este ano.
Vale lembrar que a trégua comercial com a China está prevista para expirar em 12 de agosto, o que faz com que mesmo declarações vagas e genéricas de Trump causem volatilidade no mercado.
Além disso, o presidente dos EUA declarou que aumentaria as tarifas sobre a União Europeia para 35% "caso Bruxelas não cumpra seus compromissos de investir na economia americana". Para contextualizar, após negociações recentes, a UE comprometeu-se a investir 600 bilhões de dólares nos EUA e a comprar 750 bilhões de dólares em recursos energéticos nos próximos três anos. No entanto, muitos especialistas ocidentais consideram "altamente improvável" o cumprimento desse acordo. Segundo eles, para que essa meta seja atingida, os EUA teriam que redirecionar quase todas as suas exportações de energia para a UE. A declaração de Trump parece ter sido uma resposta a esse ceticismo.
Mas, como mencionado anteriormente, esse tipo de fator fundamental — ou seja, declarações políticas — tende a ter vida curta. Enquanto isso, os fracos resultados do ISM Services, somados a dados de desaceleração em outras áreas, representam um duro golpe para o dólar. Por isso, vender EUR/USD a descoberto é arriscado, enquanto comprar ainda parece prematuro — pelo menos até que os compradores consigam romper o nível de resistência em 1,1590 (linha Tenkan-sen no gráfico diário). Caso o par consiga superar essa barreira, os próximos alvos de alta serão 1,1630 e 1,1660, correspondentes à média da banda de Bollinger no D1 e à banda superior de Bollinger no H4, respectivamente.