O fortalecimento do dólar norte-americano, impulsionado pela reavaliação das perspectivas para a política monetária, aumentou a pressão sobre o ouro. Tradicionalmente, o metal precioso apresenta correlação inversa com a moeda dos EUA, de modo que um dólar mais forte reduz sua atratividade para investidores que operam em outras divisas. Além disso, as expectativas de que as taxas de juros permaneçam elevadas por mais tempo também pesam sobre o ouro, já que o ativo não gera rendimentos, tornando-se menos competitivo em relação a títulos e outros instrumentos de renda fixa em um ambiente de juros altos.

Apesar dessa pressão de curto prazo, os fundamentos que sustentam a demanda de longo prazo pelo ouro continuam sólidos. A instabilidade geopolítica, as preocupações com a desaceleração do crescimento global e os riscos inflacionários seguem alimentando o interesse dos investidores no metal como ativo de refúgio.

No encerramento da sessão de ontem, o ouro recuou para 3.330 dólares por onça, após queda de 0,6% no pregão anterior. A pressão veio após a divulgação do Índice de Preços ao Produtor, que mostrou a inflação nos EUA avançando em julho no ritmo mais rápido dos últimos três anos. O relatório impulsionou os rendimentos dos títulos e fortaleceu o dólar, penalizando ainda mais o ouro, que não rende juros e é negociado na moeda norte-americana.

No mercado futuro, os traders estimam em cerca de 90% a probabilidade de o Federal Reserve cortar os juros já em setembro, após terem precificado integralmente essa expectativa no início da semana.

No acumulado de 2025, o ouro registra valorização superior a 25%, grande parte desse avanço concentrada nos quatro primeiros meses do ano. O movimento foi sustentado pelo agravamento das tensões geopolíticas e comerciais, que elevaram a procura por ativos de proteção, além do reforço das compras de ouro por bancos centrais.

Daqui em diante, a trajetória do metal dependerá da divulgação de novos dados macroeconômicos, dos sinais emitidos pelas autoridades do Federal Reserve e do humor dos mercados financeiros. Também está no radar a reunião marcada para hoje, no Alasca, entre os presidentes dos EUA e da Rússia. O desfecho das negociações poderá influenciar a demanda por ativos offshore, especialmente após Donald Trump ter alertado que adotará medidas severas caso Vladimir Putin não aceite um cessar-fogo na Ucrânia.

Na semana passada, a incerteza em torno da possível aplicação de tarifas norte-americanas sobre barras de ouro provocou um forte aumento no ágio dos contratos futuros em Nova York em relação ao preço à vista em Londres. No entanto, nesta segunda-feira, o presidente Donald Trump afirmou que a tarifa não será implementada, o que reduziu a diferença entre os dois mercados.

Do ponto de vista técnico, os compradores de ouro precisam romper a resistência imediata em 3.370 dólares para abrir caminho rumo ao patamar de 3.400 dólares, embora superar esse nível deva ser um desafio. O alvo mais distante se encontra em 3.440 dólares. Por outro lado, se o preço recuar, os vendedores tentarão assumir o controle a partir de 3.335 dólares. A perda desse suporte seria um golpe significativo para os compradores, podendo empurrar o ouro até a mínima de 3.313 dólares, com risco de extensão para 3.291 dólares.