O mercado de ações dos EUA continua ignorando as realidades geopolíticas. Os índices se aproximaram de níveis-chave e estão prontos para um rompimento — a única dúvida é: em qual direção? Se os próximos dados (Índice de Preços ao Produtor, Fed e vendas no varejo) não decepcionarem, as chances de um rompimento para cima são altas. Mas, se as manchetes voltarem a esquentar, uma reversão acentuada é provável. Neste momento, mais do que nunca, é essencial não operar no escuro, mas ler atentamente os sinais do mercado.
A manhã desta terça-feira começou com uma leve correção. Após os fortes ganhos da segunda-feira, os investidores decidiram pisar no freio — com razão. A geopolítica volta ao centro das atenções, trazendo de volta uma onda de ansiedade que parecia ausente no dia anterior.
Na segunda-feira, os índices registraram ganhos expressivos: Dow +0,75%, S&P 500 +0,94% e Nasdaq com um avanço quase perfeito de +1,52%. Os setores de destaque foram tecnologia, comunicações e consumo — uma reação clássica a expectativas otimistas.
Os investidores pareciam simplesmente ignorar os ataques de Israel ao Irã, bem como a declaração de Donald Trump, pedindo uma "evacuação total de Teerã". Em condições normais, esse tipo de retórica teria sido altamente explosiva para o mercado. Por enquanto, no entanto, o efeito do "ruído midiático" parece prevalecer. Enquanto a palavra "sanções" não estiver em pauta, o capital segue fluindo para ativos de risco.
Ainda assim, a geopolítica não é apenas um ruído de fundo. Como resposta à escalada, o Irã começou a mobilizar países do Oriente Médio para exercer pressão diplomática sobre os EUA e Israel. Rumores sobre uma possível flexibilidade de Teerã nas negociações nucleares também fazem parte desse jogo estratégico.
Se essa retórica não se traduzir em uma desescalada concreta, o sentimento do mercado pode mudar drasticamente nos próximos dias. Por ora, porém, os investidores seguem na expectativa de que tudo se resolva de forma silenciosa e discreta.
Nesse cenário, a Reserva Federal assume um papel crucial, e a reunião está marcada para esta semana, e o consenso do mercado é claro: as taxas de juros devem permanecer inalteradas. No entanto, o fato de o Fed tomar essa decisão em meio a tensões geopolíticas elevadas aumenta a atenção sobre sua coletiva de imprensa.
A grande questão é: será que o Fed adotará um tom mais cauteloso? Vai reconhecer os riscos externos? Ou, mais uma vez, fingirá que a economia dos EUA é uma ilha isolada, imune às turbulências globais?
Análise técnica
O S&P 500 segue preso próximo a um nível psicológico importante, que ganha ainda mais relevância a cada dia. Ontem, o índice testou claramente a zona dos 5.927 (mínima intradiária), de onde conseguiu se recuperar.
Os principais níveis agora estão em 6.005 e na faixa de 6.050 a 6.075. Esses pontos coincidem com a linha de tendência semanal, e um rompimento acima pode abrir espaço para uma aceleração rumo aos 6.100 ou mais. No entanto, sem uma solução para as incertezas políticas e sem a confirmação dos dados macroeconômicos, qualquer rompimento pode se revelar falso.
O suporte segue na região de 5.950 a 5.930, com um nível mais abaixo em 5.895. Enquanto o preço se mantiver acima de 5.950, a tendência de alta permanece intacta. Um rompimento abaixo desse patamar sinalizaria uma possível reversão e aumento na volatilidade.
O Nasdaq 100 registrou um forte movimento intradiário nesta segunda-feira, encerrando o dia com alta de 1,5%. A resistência está em 21.900. Um rompimento nesse nível abre caminho para 21.970 e depois para a faixa de 22.100–22.150.
Tecnicamente, o Nasdaq está superando o S&P, o que pode ser um sinal inicial de que os grandes investidores estão voltando a favorecer ações de tecnologia em meio à crescente incerteza.
O principal suporte está na faixa de 21.400–21.300. Em caso de reversão, essa área será observada como possível ponto de entrada para posições compradas.
Principais eventos da semana e perspectivas
O foco desta terça-feira está nos dados de vendas no varejo dos EUA, por se tratar de um indicador crucial da atividade do consumidor — especialmente às vésperas da reunião do Federal Reserve. O mercado observará de perto a força da demanda doméstica.
Números abaixo do esperado aumentariam a pressão sobre o dólar e fortaleceriam os argumentos para uma postura mais dovish por parte do Fed. Por outro lado, dados robustos podem pesar sobre as ações, ao elevar os temores de que os cortes de juros sejam adiados.
A geopolítica segue como um fator altamente imprevisível. Tweets de Donald Trump e eventuais respostas do Irã podem, a qualquer momento, alterar completamente a dinâmica dos mercados. Por ora, os investidores parecem fingir acreditar em um cessar-fogo, mas qualquer novo episódio de escalada pode rapidamente mudar o cenário.
Do ponto de vista técnico, os principais índices estão encostados no limite superior de seus canais de consolidação. O mercado precisa de um catalisador para romper essa faixa — seja um sinal mais dovish do Fed, uma trégua no conflito geopolítico ou dados fortes de vendas no varejo. Na ausência disso, é alta a probabilidade de realização de lucros nos níveis atuais.
Vertiv Holdings: o gigante discreto na interseção entre IA e infraestrutura
A Vertiv Holdings (VRT) roubou a cena nesta segunda-feira, com uma forte valorização impulsionada por dois fatores: um acordo estratégico com a NVIDIA e revisões altistas nos preços-alvo por parte de analistas de Wall Street. A ação fechou a US$117, muito próxima de romper uma nova resistência — e não apenas do ponto de vista técnico.
A Vertiv não é uma startup em ascensão, mas sim um player consolidado, que há anos opera na interseção entre infraestrutura tecnológica e energia. A empresa fabrica equipamentos essenciais para data centers — como sistemas de refrigeração, distribuição de energia e automação —, elementos críticos para o funcionamento dos centros de dados modernos, especialmente aqueles voltados à inteligência artificial (IA).
Em um momento em que praticamente toda tese de investimento parece ter algum elo com IA, a especialização da Vertiv se tornou, de repente, extremamente atraente.
O grande catalisador foi o anúncio de uma parceria com a NVIDIA. A Vertiv será responsável por fornecer uma arquitetura de resfriamento eficiente de 142 kW, além de um modelo de referência para fornecimento de energia destinado à plataforma GB300 NVL72 — uma das soluções de computação em IA mais avançadas disponíveis atualmente.
Não se trata apenas de um contrato comercial, mas de uma confirmação clara de que a Vertiv está se tornando uma peça-chave da infraestrutura que sustentará a próxima onda de transformação digital.
Os analistas reagiram prontamente. O Citi elevou seu preço-alvo para US$130, projetando um potencial de valorização de 11% em relação aos níveis atuais. A Evercore foi além, fixando o preço-alvo em US$150 — um upside de 28%. Na média, o preço-alvo consensual está em US$120, o que parece conservador, considerando o crescimento de 45% nas vendas e mais de 20% no lucro reportado no primeiro trimestre.
Uma observação importante é que a Vertiv não representa uma história passageira. Segundo o Citi, a demanda por data centers deve crescer a uma taxa anual de 14% até 2030. Isso cria uma tendência estrutural de longo prazo na qual a Vertiv está organicamente inserida como fornecedora de hardware e soluções arquitetônicas.
Gestores de carteira como Cliff Greenberg, do Baron Small Cap Fund, já estão apostando na Vertiv, enxergando sua vantagem competitiva sustentável — especialmente à medida que novas gerações de chips exigem maior dissipação de calor e eficiência energética.
Altas temperaturas e maior densidade computacional são exatamente o ambiente no qual a Vertiv prospera.
Do ponto de vista de valuation, embora o P/L atual (~64) possa parecer elevado, isso é enganoso. O múltiplo projetado já caiu para 31, e o índice PEG está abaixo de 1 — o que indica que o mercado ainda não precificou totalmente o crescimento de longo prazo do lucro por ação (EPS) da Vertiv.