O mercado de ações dos EUA encontra-se num momento decisivo. Ele demonstrou força ao se recuperar das vendas em pânico, mas ainda não deu sinais claros de uma tendência sustentável. Os próximos dias serão mais do que apenas uma série de números e relatórios — serão um teste de resiliência.
Se o mercado se mantiver firme, há uma chance de junho fechar com uma nota positiva. Caso contrário, a faixa atual pode vir a ser um pico antes de uma queda mais acentuada.
O panorama fundamental
Os riscos geopolíticos escalaram a tal ponto que as manchetes estão movimentando os mercados mais do que qualquer relatório econômico. O conflito no Oriente Médio entre Israel e Irã entrou em uma fase ativa: após uma série de ataques a instalações nucleares e energéticas em ambos os países, o mundo agora assiste ao início de uma guerra aberta.
As ameaças de Teerã de bloquear o Estreito de Ormuz impactaram imediatamente os preços do petróleo, adicionando ainda mais turbulência a um mercado já pressionado pela incerteza em relação à política monetária.
Os índices acionários reagiram de forma previsível: na sexta-feira, o Dow Jones caiu 1,79%, o S&P 500 recuou 1,13% e o Nasdaq perdeu 1,3%. A queda poderia ter sido mais acentuada, não fosse a entrada de compradores no after market, que conseguiu recuperar parte significativa das perdas.
Este é um sinal claro: apesar da pressão, ainda há confiança nos fundamentos do mercado. No entanto, essa confiança é frágil. No momento, ela se sustenta menos em dados econômicos e mais na esperança de que a geopolítica não imploda o mercado de dentro para fora.
Enquanto isso, o Federal Reserve continua sob pressão. Trump intensifica sua retórica a favor do afrouxamento da política monetária, mas o banco central mantém uma postura de cautela. Na próxima reunião, a expectativa é de que as taxas permaneçam inalteradas, apesar dos riscos de desaceleração econômica e do aumento dos custos de energia associados ao conflito.
Para os investidores, isso significa uma coisa: até que o Fed forneça um sinal claro de política, o mercado continuará refém das manchetes e das emoções.
Análise técnica
O S&P 500 está apresentando um padrão clássico de negociação dentro de uma faixa, o que não é ruim nas condições atuais. A mínima da última sessão foi de 5.927, com uma máxima de 6.054. A faixa de junho abrange 160 pontos, e os níveis-chave agora estão claramente definidos: suporte em 5.930/5.910 e resistência em 6.050/6.075.
A continuação do movimento dentro dessa faixa será vista como consolidação, mas uma quebra em qualquer direção fornecerá o próximo ponto de referência.
Já vimos um teste da região dos 5.927, seguido por uma recuperação — sinal de que ainda há interesse de compra próximo ao suporte. Com a recuperação, o índice superou a faixa de 5.995/6.005, redirecionando o foco para as próximas zonas de resistência, em 6.025/6.030 e, posteriormente, em 6.055/6.060.
Esses níveis não são apenas referências gráficas: eles coincidem com a linha de tendência semanal, e um rompimento nessa região pode desencadear um novo impulso de alta. No entanto, enquanto os preços permanecerem dentro da faixa estabelecida, o mercado continuará sem um sinal direcional claro.
Um rompimento acima de 6.075, com confirmação de volume, abriria caminho para a região de 6.100 ou mais. Por outro lado, se o suporte em torno de 5.910/5.895 for perdido, o mercado poderá recuar até 5.875 — ou níveis inferiores — forçando uma reavaliação do cenário técnico.
O Nasdaq 100 teve um comportamento mais agressivo, testando a zona de 21.471 antes de se recuperar fortemente para 21.915. Foi um caso clássico em que posições vendidas na região de 21.700/21.800 proporcionaram os retornos esperados. No entanto, o mercado mostrou resiliência: a recuperação rápida reacende a perspectiva de um possível rompimento altista.
O suporte principal está na faixa de 21.400/21.300 — zonas potenciais para entrada em posições de compra na próxima retração. A resistência imediata está em 21.900. Um rompimento confirmado nesse nível pode levar o índice a testar as regiões de 21.970/21.990, com possível avanço até 22.050/22.106. Tecnicamente, o Nasdaq parece prestes a passar de uma fase corretiva para um movimento de recuperação.
Para onde caminha o mercado de ações: eventos e cenários pendentes
A próxima semana será marcada por eventos cruciais: geopolítica, dados macroeconômicos, relatórios sobre petróleo e resultados corporativos se entrelaçam e influenciam a direção dos mercados.
O primeiro teste relevante será o relatório do Índice de Preços ao Produtor (PPI).
Após a leitura inesperadamente baixa do IPC, os investidores aguardam um PPI em linha ou também mais fraco. Caso isso se confirme, poderá reforçar a expectativa de que o Federal Reserve adie qualquer novo aperto monetário. Por outro lado, um PPI mais forte que o previsto pode provocar uma realização de lucros.
O segundo fator-chave segue sendo a geopolítica. Caso o acordo comercial entre EUA e China seja formalizado, isso pode oferecer novo fôlego ao otimismo dos investidores. No entanto, uma escalada adicional das tensões no Oriente Médio pode limitar qualquer tentativa de alta.
O mercado também tende a reagir fortemente a qualquer ameaça ao fornecimento de petróleo ou à infraestrutura energética global.
Além disso, a temporada de balanços corporativos continua. A Oracle já divulgou resultados sólidos, e, se empresas como Chewy e Adobe seguirem o mesmo padrão, o Nasdaq poderá buscar uma quebra sustentada acima de 22.000 pontos.
Cenário base: O mercado segue oscilando próximo ao topo da faixa atual. O S&P 500 permanece acima de 5.950, e o Nasdaq se mantém firme acima de 21.400. Se os dados do PPI forem neutros e não houver deterioração no cenário geopolítico, é possível uma quebra para 6.100 no S&P e 22.100+ no Nasdaq, o que indicaria o fim da correção e a retomada da tendência de alta.
Cenário alternativo: Se o PPI vier acima do esperado e as tensões geopolíticas se agravarem, o mercado pode sofrer um recuo mais acentuado, com o S&P caindo para a região de 5.895 e o Nasdaq para 21.300 — patamares nos quais os compradores devem voltar a atuar com força.