Até onde a ganância levará o mercado? A recuperação do índice S&P 500 no final de abril amenizou, em parte, o gosto amargo para Donald Trump. Seus primeiros 100 dias no cargo registraram o pior desempenho do índice amplo desde a década de 1970. Enquanto os fundos hedge continuam a basear suas decisões em dados macroeconômicos e aproveitam os momentos de alta para vender, os investidores individuais adotaram uma estratégia de alinhamento com os discursos da administração dos Estados Unidos.

Posicionamento de fundos de hedge em ações dos EUA

Declarações de autoridades da Casa Branca sobre avanços nas negociações comerciais e a redução das tarifas sobre automóveis ofuscaram os dados decepcionantes sobre a confiança do consumidor, a balança comercial e o número de vagas de emprego. A economia dos EUA dá sinais claros de desaceleração — o indicador antecedente do Fed de Atlanta aponta para uma contração de 1,5% no primeiro trimestre, muito abaixo da projeção de +0,3% da Bloomberg.

Enquanto isso, o Secretário de Comércio, Howard Lutnick, afirmou ter assinado um acordo com um país ainda não revelado. Segundo o Diretor do Conselho Econômico Nacional, Kevin Hassett, diversos acordos — especialmente com países asiáticos — estão prestes a ser concluídos. Já o Secretário do Tesouro, Scott Bessent, relatou avanços nas conversas com Coreia do Sul, Japão e Índia, afirmando que a confiança nos mercados será restaurada assim que Washington anunciar os acordos comerciais finalizados.

Não acredite no que vê — acredite no que ouve? Os discursos otimistas das autoridades da Casa Branca foram suficientes para que o mercado ignorasse a pior leitura da confiança do consumidor em cinco anos, um déficit comercial recorde e uma forte queda nas ofertas de emprego. Os fundos hedge que apostam na desaceleração da economia parecem ter fundamentos sólidos, mas foram superados pelo sentimento predominante de comprar nas correções.

Curiosamente, ao fim dos primeiros 100 dias do segundo mandato de Trump, apenas um dos onze setores do S&P 500 — o de bens de consumo básicos — registrou ganhos. São produtos que os americanos continuam consumindo mesmo em tempos de recessão.

Desempenho do setor do S&P 500 nos primeiros 100 dias de Trump

A ganância permitiu que o mercado perdoasse Donald Trump por mais uma rodada de críticas a Jerome Powell. O presidente se referiu a ele como um funcionário que não estava fazendo um bom trabalho e afirmou que ele sabia mais sobre taxas de juros do que o próprio presidente do Fed.

Seja qual for o plano da Casa Branca, por enquanto ele está funcionando: as palavras têm tido mais peso que os números. Quanto tempo isso pode durar? Talvez isso nem importe — o ponto crucial é que agora é o momento ideal para considerar proteção contra uma possível correção no S&P 500, à medida que a economia dá sinais de desaceleração, especialmente porque o custo dessa proteção (ou seja, os prêmios de opções) caiu recentemente.

Do ponto de vista técnico, no gráfico diário do índice amplo, os compradores conseguiram ativar e completar com sucesso um padrão de reversão 1-2-3. No entanto, no momento, a consolidação parece mais provável do que a continuação da tendência de alta. Uma rejeição na resistência em 5.625 ou 5.695, ou uma queda abaixo de 5.500, funcionaria como sinal para realização de lucros em posições compradas e possível reversão de posição.